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sábado, 13 de outubro de 2012

Primeiro post... (especial Mirage's III BR)

 São 7 anos sem o Mirage III na FAB!

Em 2012 serão sete anos que o nosso aguerrido e bravo Mirage III deixou de estar operacional na maior força aérea da América do Sul, a FAB. Para relembrar deste importante e belo caça que embelezou os céus do Brasil por décadas, resolvi fazer este post. A história destes aviões em solo brasileiro muitos já conhecem, outros não lembram ou nunca ouviram falar do modelo, passando despercebido. 


Dois Mirage III BR no seu último vôo sobre Goiás. Créditos; FAB.

Para os leigos, era mais um avião que dava prejuízos ao governo. Para os amantes da aviação (seja ela militar ou comercial) que o admiram, foi um guerreiro valente que protegeu nosso espaço aéreo e nos deu aval para termos nossa soberania respeitada durante estes anos todos em que ele esteve em operação.

O nascimento da família Mirage:


O projeto Mirage foi criado em 1953 através de um pedido da Força Aérea Francesa (Armée De L'Air) á empresa Dassault Aviation, também francesa. A força buscava um avião "caça interceptador" leve com boas capacidades e alta razão de subida. A Dassault apresentou então um projeto denominado MD 550 Mystére Delta.

Tempos depois, um segundo protótipo modificado foi apresentado com alterações. Esses dois protótipos são anteriores ao Mirage III e receberam os nomes de MD 550-01 e MD 550-02 (seriam o Mirage I e Mirage II), enquanto que o terceiro protótipo, que atendeu as exigências da Armée De L'Air é o Mirage III, 30% mais pesado que os seus antecessores e dotado uma turbina Snecma Atar 101G1.

O primeiro protótipo do Mirage III voou em 17 de Novembro de 1956. Esses aviões substituíram durante os anos seguintes todos os aparelhos Dassault Mystére, fabricados nos anos 50 e que até então estavam em serviço na Força Aérea Francesa. Estima-se que os franceses tenham adquirido em torno de 130 aeronaves Mirage III de diversas versões.

Dassault Mystére; o antecessor do Mirage III na Armée De L'Air.

O Mirage possui uma grande variedade de versões que vão desde modelos navais até  ataque nuclear. Abaixo veja as principais versões deste versátil avião:

Variantes do Mirage III;

III B - Versão de treinamento (2 lugares, na FAB era III D BR).
III C - Versão de interceptação.
III E - Versão de ataque ao solo.
III R - Versão de reconhecimento.

    Mirage III da Armée De L'Air. Créditos; Herve Beaumont.


Operadores do Mirage III; Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Chile, Colômbia, Egito, Emirados Árabes Unidos, França, Gabão, Israel, Líbano, Líbia, Paquistão, Peru, África do Sul, Espanha, Suíça, Venezuela e Zaire.

O guerreiro em combate mundo afora:

Aeronaves Mirage III estiveram em ação em muitos conflitos. A maioria dos embates aéreos ocorreram no Oriente Médio á serviço de Israel;

- Guerra dos Seis Dias.
- Guerra Indo-Paquistanesa.
- Guerra do Yom Kipur.
- Guerra das Fronteiras.
- Guerra das Falkland/Malvinas.

  Mirage III israelense preservado em um museu aeronáutico local.

Derivados do Mirage:

Protótipos;

Mirage IIIV / Balzac - Modelo de teste para decolagens e aterrissagens do tipo VSTOL.

Milan - Modelo projetado em cooperação com a indústria aeronáutica Swiss. Houve nele introdução de canards. O projeto foi abandonado em 1972.

Mirage III NG - Outro modelo experimental com novas asas em delta e também dotado de canards fixos. Suas tecnologias foram usadas na modernização dos Mirage existentes. 

Um Mirage III S suíço. Créditos; Germano Caldeira / site Petroead.


Outras versões do Mirage;

O Mirage deu origem aos projetos dos aviões israelenses IAI Kfir e IAI Nesher, e ao Atlas Cheetah sul-africano (ambos plagiados e modificados após o embargo francês aos dois países, embora o Cheetah tenha sido construído sob licença).

 Dois IAI Kfir com camuflagem de deserto voam juntos. Créditos; IAF.


O Nesher (cópia de Mirage 5 com alguns aviônicos israelenses) foi exportado á Argentina com o nome de Dagger e atuou bravamente nas Malvinas.

 Esquema de um M-5 IAI Dagger usado nas Malvinas. Créditos; FAA.

Mirage 5 - Versão menos avançada de ataque ao solo proposto por Israel á Dassault Aviation. Após o embargo francês aos israelenses durante os conflitos da Guerra dos Seis Dias, estas aeronaves foram repassadas á Armée De L'Air. A versão 5 do Mirage deu origem á dezenas de variantes cujas especificações não caberiam aqui. 

Mirage 50 - Versão avançada do Mirage 5. Foi comprada por poucas forças aéreas devido á idade avançada do projeto.

Mirage F1 - Versão multifunção com asas em seta ao invés da famosa asa em delta. Foi  construído como sucessor do Mirage III.

Mirage G - Versão do caça com asas de geometria variável. Foi cancelado em 1970 devido ao seu alto custo.

Mirage IV - Versão de ataque nuclear e reconhecimento, ambas aeronaves já foram aposentadas na Força Aérea Francesa.


Dois Mirage F1 CZ da África do Sul. Créditos; Knott Collection

Mirage 2000 - A última versão da família Mirage, que também rendeu um bom número de variantes;


2000 C - Variante de interceptação. Estes foram os primeiros Mirage 2000 á entrarem em serviço.

2000 B - Variante de treinamento com 2 assentos.

2000 N e 2000 D - Estas duas variantes são para ataque, cumprindo o papel que antes cabia ao Mirage IV. A versão "N" é para ataque nuclear e a versão "D" é para ataque convencional.

2000-5 e 2000 F - Estas duas variantes se valeram da tecnologia do Rafale, já que a Dassault queria aproveitar seu projeto para desenvolver um Mirage 2000 multifuncional para duelar com os aviões mais modernos.

Versões de exportação;

A Dassault criou nomenclaturas para os Mirage exportados, sendo que o Mirage de exportação 2000 E seria o 2000 C (o primeiro a entrar em serviço). Veja a nomenclatura por países:
Mirage 2000M (Egito), Mirage 2000H (Índia), Mirage 2000P (Peru), Mirage 2000EI (Taiwan), Mirage 2000EDA (Qatar), Mirage 2000EAD (Emirados Árabes Unidos) e Mirage 2000EG (Grécia).
O Mirage 2000-9 é a versão de exportação do Mirage 2000-5 mark 2 e foi vendida para os Emirados Árabes Unidos, que também contratou a atualização dos aviões antigos para o mesmo padrão. É a mais avançada variante do Mirage 2000 construída até hoje.

 Mirage 2000-9 dos Emirados Árabes Unidos. Crédito; Dassault.


No Brasil, os 10 Mirage 2000 C (monoposto) e os 2 Mirage 2000 D (biposto) estão em serviço desde  2006 na BAAN, em Goiás, atuando no 1° GDA. Estes aviões são ex-Armée De L'Air e substituíram temporariamente os antigos Mirage III BR desativados.

 Mirage 2000 C do 1º GDA da Força Aérea Brasileira. Créditos; FAB.


Os eternos Mirage III na Força Aérea Brasileira (FAB):

Voltando ao assunto principal desta matéria; os Mirage III da FAB. No Brasil, as versões operadas deste excelente caça foram a III E BR e III D BR (chamados F-103 na FAB), eram interceptadores monopostos e bipostos com capacidade de ataque ao solo, sendo que  ambas versões ficaram sediadas na Base Aérea de Anápolis-GO (BAAN), construída para essa finalidade.


Vista parcial da BAAN no início dos anos 80. Créditos; FAB.

A compra dos vetores originou-se de uma proposta do governo á Dassault em 1970, após plano do Ministério da Aeronáutica da época de ampliar o controle do espaço aéreo brasileiro. Nestes anos, a FAB ainda dependia dos obsoletos aviões Gloster Meteor e F-80 Shooting Star na primeira linha. Entre seus concorrentes estavam o norte-americano F-4 Phantom (venda vetada pelo Congresso do EUA), o inglês English Lightning e o soviético MIG-21 (descartado visto as hostilidades da Guerra Fria).

A Aeronaútica optou pelo francês  Mirage III, visto seu sucesso nas batalhas em que esteve presente no Oriente Médio, onde os israelenses abateram 58 aviões árabes durante a Guerra dos Seis Dias, sendo que 48 deles foram retirados de ação por seus Mirage. No total, o Brasil adquiriu 32 aviões, porém,  muitos leigos e veículos de comunicação se enganam, afirmando erroneamente que "o governo comprou 30 aviões da França em 1970...".


Mirage III E BR com pintura metálica padrão nos anos 70. Créditos; FAB.

Em 12 de Maio de 1970, o contrato inicial assinado pelo governo brasileiro firmava a aquisição de 16 unidades do Mirage III e opção para compra de mais 36 aeronaves (nunca completada). O novo grupo de defesa entrou em operação em 23 de Outubro de 1972 e denominou-se 1º ALADA (Ala de Defesa Aérea), mais tarde sendo modificado para 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea).


Wallpaper da FAB com o último esquema de pintura "azulado". Créditos; FAB.

Os primeiros 16 Mirage brasileiros (alguns afirmam terem sido 17) foram recebidos entre 1972 e 1973, quando ocorreu o primeiro vôo pela FAB. Os demais lotes vieram entre 1973 e 1997 (quando foi entregue a última unidade). Esses lotes compreenderam aeronaves novas e usadas, sendo que serviram de reposição de perdas e aumento da frota. A FAB perdeu 14 aviões em acidentes diversos até a desativação do modelo, ocorrida em 2005.  


Esquemas de pintura dos Mirage III da FAB. Créditos; Marcelo Ribeiro.

Os Mirages III BR podem estar sucateados e não valerem quase nada atualmente, mas, sem dúvida, quem presenciou a chegada e posterior entrada em serviço destes aviões jamais esquecerá o orgulho de vê-los cruzando os céus brasileiros com as cores verde e amarela. Esses caças foram muito solicitados para interceptação e reconhecimento de OVNIS nas décadas de 70 e 80 (há muita controvérsia neste assunto). Também foi em um desses caças que nosso ídolo Ayrton Senna atingiu a velocidade do som no ano de 1989. Em 2002, completaram 30 anos protegendo nossa pátria e um deles recebeu a famosa pintura dos 30 anos com as cores do Brasil, criada pelo designer Reinor Fernandes. 
Em 2010, escoltaram a entrada em nosso espaço aéreo do avião da Seleção pentacampeã mundial de futebol.

Saudades! Para sempre Mirage...


Wallpaper da FAB com o Mirage especial dos 30 anos. Créditos; FAB.

Fica ali a minha homenagem á este valente e legítimo "cavalo de batalha".











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